Era uma sexta e eu queria falar com alguém. Por coincidência uma velhinha me olhou, eu estava na iminência de atravessar a rua e ela sorrateiramente disse: "As pessoas acham que o mundo é só delas, mas todos vão se dar muito mal".
É que tinha gente atravessando enquanto o farol estava aberto para
os carros. É certo que nenhum carro passava, eu olhei a rua tranquila e lhe
sorri como quem diz que ela estava reclamando à toa.
"Olha lá, as motos viram do nada. Não tem como saber!"
Nesse momento uma moto virou e brecou em cima de uma mulher que tinha
acabado de atravessar do meu lado.
“Todo mundo está preocupado apenas consigo. Ninguém quer saber de fazer
algo que não traga benefício nenhum para outra pessoa que não seja ela mesma e
sem receber nada em troca”.
Enfim, o farol abriu para os
pedestres e eu me coloquei ao seu lado enquanto ela dizia que o mundo estava
perdido com pessoas assim.
Se o mundo estava perdido por causa de pessoas que atravessavam o farol fechado eu nem queria saber o que ela achava do pessoal que rouba, é político, criou o Lulu ou qualquer coisa do tipo.
Eu respondia apenas me limitando a responder "sim" e "aham", queria que ela falasse mais. Mas ela estava com muita pressa e eu a perdi na multidão enquanto ela resmungava:
“Nunca vi, não entendo".
A certo ponto a mulher olhou para trás, percebi que não seria ela o foco de minha história. Não hoje. Embora, tivesse sido mais um encontro na Trianon.
Se o mundo estava perdido por causa de pessoas que atravessavam o farol fechado eu nem queria saber o que ela achava do pessoal que rouba, é político, criou o Lulu ou qualquer coisa do tipo.
Eu respondia apenas me limitando a responder "sim" e "aham", queria que ela falasse mais. Mas ela estava com muita pressa e eu a perdi na multidão enquanto ela resmungava:
“Nunca vi, não entendo".
A certo ponto a mulher olhou para trás, percebi que não seria ela o foco de minha história. Não hoje. Embora, tivesse sido mais um encontro na Trianon.
Ela
entendeu também de algum modo, esbanjou um tchau e continuou andando. Mais para frente parei para olhar a arquitetura de um
prédio até que um homem perguntou se eu queria entrar. Respondi que sim, embora
não tivesse a mínima ideia de qual prédio era aquele.
- Mas é
visita ou estagiária?
- É
visita.
- Neste
caso você agendou?
- Não. -
Respondi confusa.
- Não
pode entrar, então.
- Tudo
bem - Olhei para o prédio mais uma vez - Mas o que é esse prédio? – Talvez, só
talvez, fosse prudente perguntar.
- É a
única escola estadual da Paulista!
- É muito
bonito!
A esse
momento ele pediu que eu esperasse, entrou no prédio e voltou com um sorriso de
ponta a ponta.
- Olha,
posso te mostrar! Mas se te perguntarem você fala que é a nova estagiária,
certo?
Concordei
e sorri entrando no prédio. Ele me mostrou todas as salas e toda a mobília
antiga. Descendo uma escada de madeira que rangia eu ouvia o homem dizer
orgulhoso que as crianças gostavam de estudar ali e que lá havia sido a
primeira escola de São Paulo a aceitar deficientes.
- Essa é
a parte meio Carandiru da escola. – Disse meio sem jeito,
Não
importava. Mais para frente umas crianças comiam e o homem dizia:
- Pegue
um bolo.
Um pouco
sem jeito expliquei que não estava com fome e agradeci, até que uma criança me olhou
nos olhos com um bolo de laranja gigante nas mãos.
-
Experimenta! Eu que fiz!
Não
poderia recusar e quando as outras viram que eu aceitei me trouxeram tortas,
sucos, biscoitos, bolos. As crianças me pediam para sentar.
- Come
com a gente.
Elas
sequer me conheciam, mas agradeci e disse que tinha que ir embora. O homem me
acompanhou até a saída falando, nas palavras dele, que aquele era um evento
histórico, que só aconteceria novamente em 500 anos.
- Nem era
permitida a sua entrada e você ainda saiu com um “lanchinho”.
- Você não
pegou minha salada de frutas.
Ela
estava particularmente indignada.
- Você
vai ficar com vontade se disser não!
Aceitei e
só quando estava na porta perguntei o nome do homem que havia me mostrado o
lugar.
Se a velhinha do semáforo ao menos pudesse ter visto todas essas cenas,
mas que ela nos sirva toda vez que a velhinha do semáforo falar ao pé do nosso
ouvido.