Por quantas vezes você já se perdeu em meio a uma multidão?
Agora, por quantas vezes você já se perdeu em meio a sua multidão? Estava lá com
todos seus pensamentos, sentimentos e emoções, mas acabou se perdendo, sem
saber em qual rua dava na esquina com a felicidade, sem saber qual avenida
seguia em direção ao seu sonho ou em qual número deixou sua cabeça.
Porém, você não é o único a se perder. O bom é que sempre
tem alguém no meio da multidão capaz de te dizer o caminho exato, assim como
tem sempre alguém que está mais perdido do que você. Outras vezes, enquanto a
gente está perdido, aparecem certos acasos, noutras estamos muito bem
encaminhados até o acaso vir e nos fazer perder. Mas do que eu estou falando?
Vou dar um exemplo real.
Um homem estava em um hotel de Goiás, ouviu a porta do
elevador se abrindo, mas lembrou-se de que estava esquecendo algo no quarto e
voltou para pegar. Apertou o botão do
elevador novamente, já com os óculos de sol, e a porta se abriu. Ele entrou
apressado, apertando o botão do térreo (que já estava apertado), e olhou para o
lado. Lá estava ela.
Espantou-se e notou nela uma cara de surpresa, ela esbanjou
um sorriso e ele soltou um “Caramba!”. Quantos anos não a via, desde que ela
teve de sair de sua cidade para ir estudar fora e eles tiveram que se separar,
desde então nunca mais se viram, nunca mais se falaram.
Se ele estivesse perdido nele mesmo a história poderia ser
diferente, porque ele poderia não ter feito nada... Poderia ter perguntado como
ela estava e só. Perguntaria se ela tinha voltado para São Paulo e, ao
responder que sim, ele perguntaria se ela estava bem, se estava namorando.
Perguntaria como ainda não tinham se visto. É que ela não estava hospedada lá,
tinha ido visitar uma amiga. E ele diria adeus, porque na mesma noite ela
estava indo embora daquela cidade, portanto, eles nunca mais voltariam a se cruzar
naquele elevador, nem em qualquer outro, nem em lugar algum.
Separamos nesse ponto a diferença que faz estar perdido
nessas horas; por tantas maneiras somos coadjuvantes e rimos de coincidências.
Mas por vezes somos mais que isso e conseguimos ser os aproveitadores do acaso.Sem entender bem o que se passava ou sem tentar entender ele
pegou o seu telefone, e o seu celular, e todas as suas redes sociais, e seu
e-mail e até mesmo seu endereço. Saiu prometendo ligar e ligou, depois disse
que queria vê-la e a viu.
O final fica oculto
nessa história. Foi só mais uma que ouvi na Trianon, talvez nem tenha final, mas
responda sinceramente: isso importa? E se a história lhe pareceu demasiadamente
romântica, talvez seja mesmo. O fato é que ele não estava suficientemente
perdido nele mesmo para achar em algum momento que não daria certo ou perdido
demais para ouvir alguém que estava mais perdido do que ele.
O problema de estar perdido é que você se arrepende do tempo
que está desperdiçando enquanto poderia estar com você. Então tudo passa rápido
demais aí dentro e você acaba se perguntando onde está tudo aquilo que deixou. Não se trata apenas de uma história romântica, um acaso entre duas pessoas, o
destino ou seja lá o que isso for, se
trata de fazer o que se tem vontade. De ser um aproveitador do acaso.
Ninguém aproveita devidamente o acaso se parece uma barata
tonta sem direção. É preciso que haja um caminho, porque se não houver nenhum também não há alternativas. Funciona como uma bússola e uma direção, se
você souber para onde está o Norte saberá todas as outras direções, terá todos
os outros caminhos. Como aproveitar o acaso se você não tem um Norte? O acaso
sempre vai estar lá para quem não estiver perdido e o puder ver, não importando
muito onde o acaso vai dar. Porque quando ele existe, quando ele está lá, é
quase um pecado não aproveitar.