8 de julho de 2016

Carta de um fã palpiteiro


Queridos roteiristas do seriado “House of Brasil”,

Fico pensando de onde tiram tanta criatividade. Achei excelente a primeira temporada, especialmente os últimos episódios, que culminaram com o afastamento da presidente Dilma Rousseff. Derrubar um governo usando como argumento uma pedalada fiscal que vários políticos já fizeram — como o capítulo “A volta dos que não foram: todos somos pedalados”, primeira temporada, muito bem mostrou — é, sem dúvidas, uma tacada de mestre dos roteiristas. As reviravoltas foram impressionantes, porém a que mais me deixou sem ar foi quando Eduardo Cunha renunciou — sinceramente, eu achei que ele seria o grande vilão da série, espero que estejam pensando em algum tipo de volta triunfal para ele — dando ares para o novo presidente interino da câmara dos deputados, no final do episódio “O Império Contra-Ataca: A Decisão de Maranhão”, tentar cancelar o Impeachment. Meu coração quase veio na boca!

O que mais apreciei no episódio “Votação na Câmara na Frente das Câmeras” foi que vocês deram destaque para a deputada Raquel Muniz exaltando o nobre prefeito de Montes Claros que, segundo ela, estaria realizando uma gestão exemplar. E então, na cena pós-créditos, ele foi preso no dia seguinte! Pensei que após a “season finalle”, com o afastamento da Presidente, o seriado daria uma esfriada. No entanto, a segunda temporada está sendo tão boa quanto a primeira, ou até melhor. Os episódios de gravações da Lava Jato estão muito mais intrigantes. Os personagens Renan Calheiros, Romero Jucá e José Sarney estão exímios. Talvez vocês poderiam ser mais realistas e ter menos preciosismo com os personagens. Não é apelativo demais que políticos com tais áudios nunca vão parar atrás das grades?

Ademais, adorei a referência aos livros clássicos de distopias. O ex-secretário de Segurança Pública de São Paulo, que tanto promoveu a violência policial contra negros e pobres, tornou-se o titular da pasta da Justiça. Lembra muito a composição ministerial de “1984”, do George Orwell, em que o Ministério da Paz é o que promove a guerra. Um personagem que teve participação bastante ativa na primeira temporada e está um pouco sumido nesses capítulos mais recentes é o Lula. O episódio do sítio e tríplex não ficou bem resolvido e é uma ponta solta importante da série.

Sobre Temer, acredito que vocês poderiam ter escolhido um ator melhor para encená-lo. Às vezes ele me parece um vampiro, inexpressivo demais — não que Dilma seja melhor atriz que ele. É curioso que todo país tem um presidente e o Brasil nesse seriado, que se mostra um local de muita riqueza, tem dois.  Outro fato é que às vezes vocês exageram nas ironias. O presidente do senado, é também o que defende o fim das gravações. Nove dos ministros do Governo Temer foram citados na Lava Jato. Sem falar da extinção — e posterior retorno — do Ministério da Cultura. Talvez não seja um recurso narrativo tão eficiente fazer os personagens tomarem decisões das quais logo se arrependerão e voltarão atrás. Aliás, ainda bem que agora vocês tiraram um pouco o pato do pano de fundo das imagens (apesar de eu achar que ele atua melhor que o Temer).

Gostaria de parabenizar pelo trabalho que vêm fazendo semana após semana. Deve ser difícil manter a audiência entretida durante tanto tempo com um tema que não atrai muitas pessoas como a política. Fora que nunca sei em qual personagem acreditar. Parece que vocês não vão deixar sobrar nenhum para ser o mocinho. Mas pensem com carinho no Moro. E lembrem-se, como diria Nietzche: “A arte existe para que a realidade não nos destrua".

Ass.: Uma pessoa que os admira profundamente, mas com ressalvas.

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