9 de outubro de 2016

Confissões de uma autora assassina



Eu sempre quis matar alguém importante. Já tentei os mais comuns, mas nunca fui capaz de matar a personagem principal. Aquela que todo mundo ama. Aquela que todo mundo torce. Criaria a história mais envolvente do mundo só para que ela morresse no final. E o leitor ficaria com ódio de mim, como tantas vezes fiquei de muitos autores. Essa gente que foi muito mais corajosa que eu. Gente que assumiu: matá-la irá me doer, mas tornará essa história inesquecível.

Não. Não sei como ter, se tenho ou se treino essa maldade. Tanto tempo construindo a personagem, aplicando dramas durante a sua vida, fazendo ela passar pelas mais altas provas para tudo acabar em morte. Como eles conseguem? E toda aquela responsabilidade de matar o ser que você mais ama? É muito mais difícil escrever a morte do que a ler. Uma vez fiz uma das minhas personagens favoritas passar por um grande drama (não era a morte) e quase me afoguei em lágrimas.

Enquanto não apago a chama da minha história vou matando pelas bordas. Um personagem secundário aqui, outro terciário ali... mas acho que um serial killer já  nasce dominando a arte, não é mesmo? Ou talvez seja uma questão de sentimento. A gente sabe quando alguém vai morrer. Sente-se que é necessário matar. Como se notasse que é chegada a hora. Como se fosse o próprio Deus. Não consigo parar de pensar que pode ser assim conosco também. E se a arte imita a vida, então está explicado porque a personagem principal ainda não morreu.

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