Como as instituições escolares lidam e os preparam para a vida
Por: Bruna Meneguetti - Do Alto do Poste
Criadora
do canal “Fila Preferencial” no Youtube, Victoria Schechter fala nos seus
vídeos um pouco do universo do deficiente visual. Seu problema é genético e
hoje ela tem 5% da visão, mas pode enxergar claramente o problema das
instituições de ensino ao lidarem com os deficientes e deixa isso bem claro no
vídeo “10 coisas que os cegos odeiam”.
Ela não consegue sequer imaginar como seria essa situação na escola
pública, situação que é clara para o estudante Bruno Gabriel Moreira, de 13
anos, que estudou em uma das Escolas Municipais de Educação Infantil (EMEI) e
pode falar abertamente: “eles não tinham nenhuma especialização com deficiente
visual”.
Bruno, assim como a Victoria, começou a ter problemas de visão aos três
anos. O quadro dele se desenvolveu devido a um câncer que foi controlado, mas
que acarretou na perda total da visão.
Hoje ele está no oitavo ano e estuda no Instituto de Cegos Padre Chico,
mesma instituição de ensino de Patrick Henrique de Jesus, de 18 anos.
Um câncer levou a visão do estudante Moreira |
Patrick enxergava bem até os cinco anos e estudou em uma escola pública
em Diadema. Ele esclarece que o professor não conseguiria dar atenção para o
deficiente nem se quisesse. Devido ao elevado número de alunos na sala
(cinquenta, mais precisamente), não havia como auxilia-lo da maneira correta.
Essa situação não está presente no Instituto Padre
Chico, que hoje conta com 130 alunos, a maioria entre 4 e 16 anos, distribuídos
em 11 salas, cada uma com, no máximo, 15 alunos, obedecendo aos critérios da
Secretária da Educação Centro-Sul de São Paulo. O Instituto é filantrópico e
conta com a doação de pessoas físicas e jurídicas, além de parcerias com
empresas e isenção de impostos para manter-se. Ninguém trabalha como
voluntário, os educadores são registrados e precisam conhecer o braile para
lecionar, apesar de familiares sem deficiência dos cegos também estudarem lá.
“Se eu falar
para você que um aluno cego é um aluno comum como outro que não tem deficiência
e que a pessoa que deve se adaptar sou eu, você acredita?”, pergunta a
professora Luciana Ruiz quando questionada sobre a questão de conciliar as
aulas para os dois grupos de alunos.
No Instituto são priorizadas a
capacitação e autonomia dos estudantes. Eles são treinados para se orientar
através do som, temperatura e ventilação, sendo que nenhum deles faz o uso da
bengala lá dentro.
Durante
as aulas vários instrumentos são utilizados para explicar pelos outros sentidos
o que deveria ser explicado pela visão, como o Soroban (instrumento de contas
chinês), o Multiplano (usado para desenhar figuras geométricas), além de
desenhos feitos em relevo de células, planetas, etc. Outro aparelho muito
importante no auxílio da aprendizagem é a máquina Perkins, que produz textos em
Braile.
Luciana mostra o instrumento de contas Chinês |
"Não conseguiriam dar atenção nem se quisessem" |
Caderno escrito através da Máquina Perkins |
Os
audio books também funcionam como reurso de leitura para os cegos e, assim como
a Máquina Perkins, encontra grandes problemas em sua distribuição. Pedro
Millet, de 58 anos, membro da Fundação Dorina Nowill e desenvolvedor do
aplicativo de audio book Daisy Reader, nos conta que o grupo Daisy é formado
por 30 representantes de instituições do mundo todo, que são voltadas para a
distribuição do livro acessível. A lei vigente do direito autoral diz que
nenhum país pode exportar para outros um livro nesse formato, o que impede a
acessibilidade das pessoas, limitando a circulação.
“Obviamente a acessibilidade e
educação está melhorando aos poucos, mas ainda há muito que melhorar. A adoção
de material obrigatoriamente acessível para os alunos fez aumentar o número de estudantes
cegos que frequentam a escola”, afirma Pedro.
Não
só a frequência dos alunos nas escolas aumentou, é notável também a existência
de novas aulas e cursos, como as aulas de Atividade da Vida Autônoma (AVA) e o curso
Orientação e Mobilidade, ambos oferecidos por diversos órgãos e institutos. No curso de Orientação e Mobilidade o adolescente
que já pode andar sozinho na rua é orientado no período de seis meses a um ano,
desenvolvendo quatro técnicas para poder andar na rua com autonomia.
Durante
este período, os cegos também são treinados para pedir ajuda as pessoas quando
precisam. “Às vezes eu vejo um cego parado com uma bengala em uma esquina e
alguém com muita pressa pensa que ele quer atravessar, pega no braço dele e
começa a puxá-lo”, lembra Luciana.
A
fala de Luciana também é um dos itens do vídeo “10 coisas que os cegos odeiam”,
da Victoria. Ela nos conta que vive se assustando com desconhecidos que pegam em
seu ombro, assim como se assusta com pessoas que ficam gritando com ela.
“A maioria das pessoas tem a intenção de
ajudar. Não tenha medo de perguntar, assim você dá espaço para o deficiente responder
se precisa ou não de ajuda”, diz Victoria. Patrick, que já fez o curso de
Orientação e Mobilidade, afirma que a abordagem errada acontece porque a
população não tem o hábito de conviver com o deficiente visual diariamente. “Eu
mesmo oriento, pego no cotovelo ou no ombro e já indico como eu gosto de ser
guiado”, afirma Patrick.
Bru, já fiz um comentário no Facebook porque vi que o André compartilhou o link mas como gosto muito desse assunto, vou comentar de novo aqui. Você esqueceu de mencionar que existem também os leitores de tela e também um recurso que aumenta as letras no computador para pessoas com baixa visão. Mas realmente, são recursos pouco conhecidos e pouco difundidos, além de não ser todo site (na verdade, nunca vi) que tem a formatação correta para o leitor de tela. Visitei uma instituição lá em Santos de deficientes visuais e achei tudo fantástico. Mas como disse, é porque me interesso muito por essa área da deficiência/tecnologia assistiva, justamente pela independência que ela fornece para os deficientes. Todo mundo tem essa coisa na cabeça de pensar que deficiente visual não consegue fazer nada sozinho mas quem sabe e acompanha nem que seja só um pouco a comunidade deficiente visual sabe que eles dançam, passeiam, cozinham e até tem um esporte próprio, competem e tudo o mais. Com o pouco que vi desse universo na minha graduação e nas minhas pesquisadas curiosas vi que é difícil mesmo hoje em dia que as pessoas compreendam, que as escolas adquiram recursos próprios para esse tipo de deficiência (e para todas as outras, para pessoas surdas, cadeirantes, enfim), e até mesmo que as pessoas parem de ter medo da deficiência. Gosto de acreditar que com o tempo essa questão será levada mais a sério e que as pessoas vão compreender mais a realidade dessa comunidade. Depois desse super comentário (hehehe), deixo uma sugestão de filme, que inclusive está nos cinemas e ganhando diversas premiações mundo afora, que, apesar de não tratar apenas do tema da deficiência visual, tem essa questão muito forte no filme. O filme chama-se Hoje Quero Voltar Sozinho e trata bastante dessa questão da (in)dependência dos deficientes visuais. Beijos!!
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