11 de maio de 2014
O horror do poeta
O horror do poeta é ser lido por alguém que saiba que sabe ler. Não pelos ávidos leitores inocentes que não têm a prepotência de afirmarem saber ler, mas pelos que negam a ingenuidade em nome de uma pretensa sabedoria que dizem ter. Não pelo jovem tolo que tem a mais alva certeza de que não há certezas no texto, mas pelos estudiosos que, do alto de suas arrogâncias conseguem encontrar certeza onde o poeta só vê instabilidade.
Ah, os professores de português, escondidos por detrás de suas espessas barbas e seus grandes óculos, por mais que não saibam que têm barba ou usam óculos. Quem são eles para alegar que não têm barba e óculos se eu os vejo claramente em minhas minuciosas análises? Essas criaturas derrubam o poeta do céu e o puxam para seu mundo regulado e opressor. Sufocam-no enchendo suas bocas de palavras inexistentes e suas penas de metáforas impensadas. Interpretam o que não foi dito e suprimem o sentido mais puro.
Enquanto o pequeno sem luz maravilhado com o poeta não sabe ser o mais feliz entre os infelizes leitores, o demônio gramatical, em seu inferno semântico, lexical, semiótico e morfológico, despedaça a grandeza do poeta em nome das verdades que vomita ao iluminar os alunos. Esse, meus caros, é o horror daquele que, desesperadamente, escreve para ser lido e não compreendido e esmiuçado.
P.S.: texto escrito durante uma aula de português.
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