15 de julho de 2014

Um novo mundo

Um bipe foi emitido em algum lugar da assustadora imensidão do Universo. Não soava como nada que pudesse ser provocado por um fenômeno natural, e nada daquele tipo fora escutado nos últimos milhares de anos. O bipe voltou a estalar. Por mais modesto que fosse, era como um rugido em meio ao desconcertante vazio em que se encontrava. Foram necessários mais quatro desses para que a nave sofresse um solavanco e reproduzisse mais uma série de barulhos variados. Apesar da eternidade que decorreu desde seu lançamento, seus circuitos internos mantiveram-se em perfeito estado e, finalmente, foram reativados.

A proximidade com o destino permitia a reanimação dos tripulantes, que passaram alguns milênios imersos em nitrogênio líquido. O astronauta mal podia recordar seu nome, mas estava contente em sentir algo novamente. Era estranho ter de volta as funções vitais, porém extremamente reconfortante. Ele foi voluntário para aquela missão experimental que muitos consideravam loucura: explorar a superfície de um planeta habitável muito distante de seu sistema solar. O resultado de sua análise poderia salvar a espécie, pois os recursos naturais de que dispunham já haviam chegado a níveis insustentáveis de escassez.

Assim como ele, outras cem pessoas passaram uma quantidade absurda de tempo inconscientes e também estavam confusas com o retorno à realidade. No entanto, todos tinham a certeza de que representavam a última esperança de prosperidade. Enfim estavam próximos da salvação de sua raça. Um novo planeta, na faixa habitável da órbita de um estrela, onde teriam recursos em abundância. Não sabiam se havia vida naquele lugar, mas quando iniciaram a viagem, alguns milhares de anos antes, puderam notar que nenhuma modificação havia sido feita na natureza, então esperavam por um paraíso intocado.

Subitamente, a nave chacoalhou, atingida por alguma coisa. O comandante tentou recuperar-se de seu transe milenar e dirigiu-se o mais rápido que pôde para a cabine de controle. Desativou o modo automático, assumiu o manche e guiou a gigante massa de metal por entre destroços de satélites desativados e sucata espacial. Evitou novas colisões e, por fim, adentrou a atmosfera do planeta.

A forte guinada assustou a tripulação, que logo percebeu que as chamas tomavam conta da carcaça exterior da nave. Apesar do susto, aquilo era um bom sinal. Indicava que havia oxigênio ali, e que eles poderiam respirar sem a ajuda de aparelhos. Enquanto mergulhavam naquela atmosfera, tudo o que viam era uma nuvem espessa logo abaixo, que impossibilitava vislumbrar a superfície. Enquanto não atravessassem essa camada, não havia como se preparar para o pouso. Não sabiam nem se pousariam em um oceano ou em terreno sólido. Não poderia ser um planeta gasoso devido à sua densidade, mas nenhuma outra alternativa poderia ser descartada naquela situação. Deveriam estar preparados para qualquer coisa.

A nave penetrou a fumaça e não era possível avistar nada além através dos vidros. A apreensão estava vívida durante aqueles instantes, até que um forte impacto sacudiu todos os tripulantes e causou uma pane geral. Após momentos de pânico, a energia voltou a estabelecer-se. Ainda balançavam, mas agora levemente. O comandante percebeu que havia apenas um líquido escuro e denso à sua volta. Haviam caído num grande pântano? Ou seria um mar? Era impossível precisar até mesmo se era dia ou noite, tamanho o breu gerado pela névoa.

O comandante decidiu que o grupo se dividiria em quatro e seguiriam em direções diferentes até encontrar solo firme. Checou os comunicadores e entregou-os a seus subordinados. Um outro aparelho analisava os gases da atmosfera. Apesar da presença de oxigênio, não era seguro respirar fora da nave, então foram distribuídas as máscaras. Em alguns minutos, os botes de exploração já estavam a postos e todos embarcaram. Retornariam à nave apenas em caso de emergência ou para renovar os tanques de gás.

A neblina parecia não se dissipar mesmo após várias horas navegando rumo ao desconhecido. O líder sabia que todos depositavam as confianças nele, e sentia todo o peso da responsabilidade enquanto tentava avistar algo por entre a fumaça. Aquele não se parecia em nada com o planeta azulado para o qual seguiram viagem, mas os cálculos não estavam errados.

Quando o cansaço já dominava completamente sua equipe, ponderou que haviam se passado três dias e talvez devesse voltar à nave para reabastecer os tanques. Porém um de seus homens conseguiu visualizar uma sombra enorme à frente. Irromperam pela névoa até uma grande construção sobre a água. Passaram por baixo daquilo que parecia uma ponte destruída, e seguiram até encontrar um grande monumento azul claro submerso até a metade. Aproximaram-se e concluíram que se tratava de uma estátua. Um dos braços estava erguido e segurava uma tocha enquanto o outro, abaixado, tinha uma tábua.

O líder observava atento, com as antenas levantadas, as ruínas de uma antiga civilização. Uma pequena placa de ferro flutuava naquele líquido. Nela estava escrita uma mensagem, provavelmente num idioma alienígena daquele planeta devastado, com sinais completamente incompreensíveis para ele: “WELCOME TO NEW YORK”.

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