12 de dezembro de 2014
Crônicas do Espaço #1
Olá, meu caro ancestral. É uma honra poder me comunicar com o passado distante. Caso você ainda esteja vivendo no planeta A1-C3, essa mensagem foi enviada com sucesso. Oh, me desculpe. Talvez vocês ainda conheçam esse corpo celeste como “Terra”, certo? Ainda me esqueço que um dia ele foi visto como o único lugar habitável do espaço.
Caso os receptores desse sinal estejam sentados confortavelmente em alguma espécie de assento, considerem-se alguns dos seres mais sortudos do universo conhecido. Posso afirmar com propriedade que pouquíssimos planetas existentes oferecem a possibilidade de se sentar de maneira aconchegante como a Terra – por mais que eu só a conheça por meio dos relatos de antepassados distantes.
Eu, por exemplo, me encontro atualmente em um planeta em que o que vocês chamam de gravidade é tão diferente que as pessoas não têm medo de altura. Elas têm medo de ficar no chão e subitamente serem arremessadas para fora da frágil atmosfera. Quase me vi rachando a cabeça agora há pouco em um desses surtos de instabilidade gravitacional. As áreas mais seguras do T5-C2 – como conhecemos esse lugar – são localidades cobertas, com pé direito baixo e teto acolchoado.
Em alguma regiões a gravidade passa mais tempo invertida do que positiva, então os habitantes daqui se acostumaram a construir casas de cabeça para baixo e viver nelas normalmente. Como as forças do planeta são bastante irregulares, ele é um dos poucos corpos celestes de grandes proporções que não se mantém como uma esfera. Na verdade, o T5-C2 mais parece uma bola de futebol americano murcha.
O maior problema, no entanto, nem é esse. Qualquer nave desavisada que transite pela atmosfera daqui é arremessada ou atraída com uma força impressionante, sendo necessários cálculos de extrema complexidade – e muita sorte – para saber o melhor horário e a velocidade ideal para aterrissar por aqui. Na verdade, esse é um verdadeiro triângulo das bermudas do universo conhecido.
Como eu estou preso nesse planeta há alguns meses esperando um bom engenheiro que faça uma nave sair daqui, resolvi iniciar esse registro e mandar para vocês. Espero que gostem. Aguardem ansiosamente pelos próximos episódios que vou narrar a vocês quando conseguir me livrar desse lugar bizarro. Agora vou me despedir dos senhores, pois senti um leve tremor e creio que devo buscar uma área coberta e acolchoada muito em breve. Câmbio, desligo!
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário