Arrepio-me. É uma noite fria e calma. Mas algo está
estranho, dizem por aí que a mariposa engoliu o sapo. Com isso, o vento sopra
num chiado agridoce. Pergunto ao campo o que aconteceu. Em sinal de
manifestação, a grama alta abaixa e levanta, abaixa e levanta. E eu não entendo
o que ela quer dizer.
Eu vejo uma pedra, que demorou centenas de anos para ser
como é. Fico ouvindo como a mariposa engoliu o sapo. Ela estava voando e as
suas asas, contam-nos, batia tão rápido que fazia ressoar o som ao mais surdo
dos ouvidos. Seus olhos débeis sabiam quais pedras percorrer e qual sapo
atingir. Naquela tarde, a mariposa engoliu o sapo. Foi num canto obscuro do
lago. Foi um sapo do tamanho da palma da minha mão.
As nuvens sumiram como em tom de revolta. O sol está
escondido para não poder ver mais coisas estranhas como essas e a lua decidiu
não aparecer hoje. A floresta estava em um silêncio descomunal quando a
mariposa abriu a sua boca, de maneira que nenhum ser humano jamais havia visto,
e pegou o sapo. Foi assim, em uma só tentativa. Abocanhou e engoliu. Dizem que
ele passou igual comprimido, meio entalado, meio querendo sair, e meio
descendo. E, para a surpresa de todos, a mariposa continuou voando e voou até
sumir de vista. Era uma mariposa muito grande mesmo.
Não é estranho que realmente, por um instante e dentro de um
determinado universo, possamos acreditar que, em algum lugar, uma mariposa
possa, de fato, ser capaz de engolir um sapo? Não é ingenuidade. A mariposa não
engoliu o sapo. Sabemos que é impossível.
É que você ainda é uma criança. Depois de algum tempo e sob certas circunstâncias, você é capaz de acreditar que uma mariposa engoliu um sapo e pode até mesmo visualizar isso. E se alguém lhe disser que a mariposa engoliu o sapo, será capaz e imaginar ela abrindo a boca e o acertando em uma só tentativa porque, em algum dia, leu isso em determinado lugar.
Porém, esta não é uma tentativa de lhe enganar. E sim um
alerta.
Se o lugar for propício, se já tiver escutado algo sobre, se
não sentir que há necessidade de perguntar por que ninguém mais o está fazendo
ou por que, naquele lugar, deve aceitar o que se diz, você realmente acredita
que se indagaria como uma mariposa foi capaz de engolir o sapo?
Se sentir que não precisa se proteger, você conseguiria dizer ao seu cérebro: "eu quero saber o que aconteceu de verdade". Caso ignoremos o fato de que somos todos inocentes como crianças, mas que, diferente delas, paramos de nos perguntar sobre tudo, então um dia será realmente aceitável a mariposa engolir o sapo (mesmo que fora da literatura).
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