2 de março de 2015

O lápis com problemas de existência


Às vezes eu tenho que lembrar de que não sou um robô. Na verdade, isso é bem frequente. Então, eu cerro os meus olhos, me centro em mim e digo em voz alta (para que entre mais facilmente em minha mente): "Vá com calma, você é só um lápis. Repita comigo: Você não é um robô".

E fico nesse exercício até soar verídico.



É claro que ao longo do dia eu vou esquecendo. Afinal, o tempo inteiro é como se eu não tivesse sentimentos e fosse um ser super dotado, capaz de fazer tudo. Mas eu sou só um lápis. Como todos - ou quase todos- os alunos adultos, eu vou para a Faculdade todos os dias. Afinal, já estou bem menor do que quando nasci e era apenas um lápis gigante.

Aliás, tem muita gente envolvida no processo de ensino. Há os livros, que nos convidam a conhecer o mundo; os cadernos, que são outro tipo de alunos; os dicionários, também conhecidos como professores de línguas; os estojos, que coordenam o processo.

Mesmo com tanta gente, ainda me sinto sozinho. Moro em uma mochila relativamente grande e posso dizer que os chamados seres humanos me servem muito bem como auxiliadores de estudo que são para nós.

Mas ainda vejo muitas contradições. Quer dizer, me irrito com aqueles livros que ficam apenas recitando e não repensam sobre um assunto. Para mim, é totalmente incoerente que um professor seja um reprodutor de discursos o tempo todo. Os melhores livros que tive foram aqueles que estavam abertos a coisas novas e liam, ou viam, ou procuravam saber antes de apenas saírem reproduzindo incessantemente as próximas páginas.

É claro que vejo isso em muitos lápis e cadernos também. Todos eles vivem escrevendo e lendo as mesmas coisas sempre. Mas não estou isento deste erro. Outro dia mesmo, me vi como eles. Estava reproduzindo um discurso preconceituoso sobre um professor que odeio. Covenhamos, por mais que o livro não seja aquela maravilha, sempre há o que aprender com ele.

Acho que os lápis são mesmo assim; quando a gente enfia algo na cabeça, também ficamos reproduzindo para nós mesmos até perceber que é melhor parar, para o próprio bem. Fiquei triste quando percebi este erro meu.

Mas, espere, eu não sou um robô! Sou um mero lápis, que erra e acerta, e tem sentimentos, e vive. Que mania que a gente tem de se tratar como ser humano, que só tem algumas habilidades e nenhuma responsabilidade. Eles devem ser felizes, são meros objetos que apenas nos servem.

Porém, e se eu estiver errado sobre o meu mundo? Critico tanto aqueles que não se abrem e pensam em coisas novas, e agora estou julgando a vida fácil de um objeto, que só tem a obrigação de nos levar até a escola. Talvez eu seja mesmo igual a todos os lápis Ou estou apenas ficando louco. Enfim, obrigado por me ouvir, caderno. Você é um bom amigo...

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